Resumo
O desenvolvimento da nomenclatura binominal, universalmente utilizada entre os cientistas para designar espécies biológicas, tem sido inquestionavelmente atribuído a Lineu (Carl von Linné). Tal convicção, divulgada por numerosos trabalhos de sistemática, é tão inequívoca que Species Plantarum (1753) e Systema Naturae (10ª edição, 1758) são tomados como pontos de partida para a aplicação das normas instituídas nos códigos internacionais de nomenclatura botânica e zoológica, respectivamente. O principal argumento é que esses foram os primeiros trabalhos em que a nomenclatura binominal foi consistentemente utilizada para designar espécies em publicações abrangentes nas áreas da Botânica e da Zoologia. Contudo, a análise de Philosophia Botanica, na qual Lineu explica os seus critérios de classificação e nomenclatura, juntamente com a dos trabalhos acima mencionados, conduz a uma interpretação diferente da nomenclatura de Lineu. Em nenhum dos trabalhos Lineu afirmou, ou mesmo sugeriu, que o nome científico de uma espécie deveria ser composto por apenas duas palavras. Pelo contrário, e tal como os seus antecessores, Lineu explicitamente adoptou designações polinomiais como nomes científicos legítimos das espécies. Numa tentativa para determinar como a nomenclatura binominal foi estabelecida como sistema nomenclatural, algumas obras-chave do séc. XVIII escritas por naturalistas como C. A. Clerck, G. A. Scopoli, W. Hudson, P. S. Pallas, S. G. Gmelin e J. Ch. Fabricius foram analisadas.
Resumo
Após referência à elevada diversidade entomológica do nosso território e aos factores que terão concorrido para a mesma, é feita uma análise geral das treze espécies de cicadídeos lusitânicos. É chamada a atenção de que praticamente todas estas espécies possuem hoje distribuições mais ou menos fragmentadas, dando-se ênfase à situação de Euryphara contentei, uma das mais raras e ameaçadas cigarras do nosso país. Em resultado de extensivo trabalho de campo conduzido durante os últimos anos, E. contentei apenas foi encontrada em quatro pequenas áreas residuais, nomeadamente junto a Beringel e a Sousel, no Alentejo. Alguns destes refúgios são pequenas manchas de vegetação adjacentes a bermas de estradas, ou mesmo das próprias bermas. É feita seguidamente uma breve discussão das limitações e eventuais benefícios das chamadas microrreservas entomológicas. Por outro lado, tendo em conta as vantagens que poderão advir da protecção dessas pequenas parcelas de vegetação, especialmente quando em mosaico, é feita a proposta da criação de microrreservas nos quatro sítios onde E. contentei sobrevive. Finalmente, chama-se a atenção para a necessidade de prospecções no terreno mais extensas e detalhadas, bem como para a vantagem de se encetarem eventuais acções de gestão envolvendo o aumento da conectividade entre os quatro biótopos já identificados e outros a descobrir, nomeadamente através da implementação de corredores ecológicos e da própria translocação de exemplares.
Resumo
A perda da biodiversidade é hoje em dia uma preocupação mundial, sendo a destruição do habitat e a fragmentação das populações consideradas entre as principais causas de declínio da biodiversidade. A perda de biodiversidade pode indirectamente influenciar o equilíbrio e funcionamento dos ecossistemas tanto aumentando a sua vulnerabilidade a factores externos como diminuindo a sua estabilidade. Em 2004, a Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre a diversidade biológica propôs diversos indicadores, associados a várias áreas focais, como ferramentas para avaliar o progresso em direcção à meta de suspender a perda de biodiversidade até 2010. Na presente análise pretende-se demonstrar a relevância dos pequenos mamíferos como modelos na avaliação da biodiversidade, aplicando indicadores de biodiversidade a estudos anteriores.
Resumo
Durante os anos de 1965 a 1985, o Professor Carlos Almaça produziu uma grande quantidade de dados sobre o grupo Barbus. No final dos anos 80, ele aderiu ao consórcio europeu “Barbus Rountables”, que tinha por objectivo desenvolver métodos e conceitos, agregando vários especialistas de toda a Europa, de diferentes áreas como a sistemática e a genética. Presentemente, podemos considerar que a estrutura de Barbus sensu lato (s.l.) é relativamente bem conhecida, apesar de alguns novos resultados ainda carecerem de confirmação e de estudos adicionais serem necessários. Barbus s.l. foi definido tendo por base um caracter trivial, a presença de barbilhos, tendo-se verificado que inclui linhagens diplóides, tetraplóides e hexaplóides, sendo estas polifiléticas, o que explica a dificuldade em estabelecer uma taxonomia. As numerosas contribuições publicadas desde 1990, baseadas em marcadores cariológicos e moleculares, permitem-nos ter um panorama claro da história evolutiva deste grupo complexo. Em primeiro lugar, e de acordo com as regras de taxonomia, os “verdadeiros Barbus” (Barbus sensu stricto) incluem espécies tetraplóides, com distribuição ao redor do Meditarrêneo, incluindo as regiões do Danúbio e da Mesopotânia (Tigre e Eufrates). Eles incluem a linhagem do norte do Mediterrâneo (género Barbus) e uma linhagem do sul do Mediterrâneo (género Luciobarbus). Existem Barbus s.l. tetraplóides na África do Sul. Os Barbus s.l. diplóides têm uma vasta distribuição e são muito diversificados, incluindo espécies asiáticas (em especial do sudoeste asiático) e africanas. As relações filogenéticas entre as espécies diplóides e poliplóides ainda estão por descrever. Pensa-se que os Barbus s.l. hexaplóides terão aparecido por hibridação entre espécies tetraplóides (conforme evidenciado para o género Capoeta). Uma rápida homogenização da linhagem hexaplóide pode ser observada do Médio Oriente para a África do Sul. Esta rápida radiação africana constitui o género Labeobarbus, os “grandes Barbus”, que se distribuem por todo o continente. A presente contribuição procurar desenvolver a estrutura deste “puzzle Chinês” e a história da sua descrição, a qual ainda não está fechada.