Conservação e restauro

Imagens relativas à conservação e restauro do Fundo de Francisco de Arruda Furtado

Encapsulamento em Melinex de um desenho avulso (preparação para a exposição LARGO TEMPO).

O tratamento do espólio de Francisco de Arruda Furtado

O espólio de Francisco Arruda de Furtado é constituído por uma diversidade significativa de suportes incluindo documentos avulsos, álbuns, publicações impressas, documentos manuscritos diversos, ilustrações, esboços e desenhos resultantes da sua atividade científica. Uma grande parte desta documentação, sobretudo a manuscrita, é profusamente enriquecida com múltiplos desenhos e anotações decorrentes dos seus trabalhos de investigação, indissociáveis do seu contexto original e desafiantes na sua conservação. É frequente a existência de diferentes suportes de papel (incluído espécimes fotográficos) sobrepostos por colagens diversas, bem como, uma variedade de médios e técnicas utilizadas nos desenhos científicos e suas descrições, presentes em álbuns, cadernos ou mesmo em documentos avulsos.

No seu conjunto, o estado de conservação deste espólio é razoável e as principais patologias existentes advêm sobretudo, da natureza heterogénea dos materiais presentes e seu envelhecimento associados às condições ambientais, de acondicionamento e manuseamento anteriores, assim como, fruto das vicissitudes inerentes ao seu percurso. O plano de conservação deste espólio tem como principal objetivo o melhoramento do seu estado atual de preservação, favorecendo de igual modo, a sua futura utilização quer para fins de estudo e de investigação à comunidade científica, quer para a fruição e divulgação ao público em geral.

Imagens relativas à conservação e restauro do Fundo de Francisco de Arruda Furtado

Pormenor do Álbum de desenhos e esquissos, 1885-86, (PT/MUL/FAF/D).

Baseando-nos no princípio da intervenção mínima e na compreensão da coerência histórica e científica do conjunto de documentos que constituem este espólio, em concreto, na importância da sua organização, finalidade, materialidade e de todas as marcas históricas existentes – características indeléveis - os tratamentos de conservação em curso contemplam as tarefas de higienização superficial de sujidade, a consolidação e planificação pontual dos diferentes suportes e a revisão e melhoramento do seu acondicionamento atual. Mais recentemente, uma parte do conjunto de desenhos avulsos foi ainda intervencionada para integrar a exposição temporária, LARGO TEMPO nas Coleções do Museu Carlos Machado, exposição comissariada por João Miguel Fernandes Jorge.

Até à data a única intervenção de conservação e restauro realizada no espólio teve lugar em 2008, também com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, e incidiu sobre o caderno manuscrito “Correspondência Científica de Arruda Furtado”. Este documento é composto pela correspondência científica trocada entre Francisco Arruda Furtado e outros cientistas seus contemporâneos, em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente Charles Darwin, entre 1880 e 1886. As cartas enviadas por Arruda Furtado foram transcritas pelo mesmo para o caderno, e as respostas, na sua forma original de postais ou cartas e envelopes, encontram-se coladas juntamente. Este caderno apresentava problemas de conservação diversos, de onde se destaca, a nível estrutural, o aumento substancial do volume do corpo de texto, provocado pela colagem dos vários envelopes e cartas nas folhas do caderno, o que conduziu à quebra da encadernação na área da lombada.

Imagens relativas à conservação e restauro do Fundo de Francisco de Arruda Furtado

Imagens da frente e margem inferior do manuscrito “Correspondência Científica de Arruda Furtado”, antes (esq.) e após (dir.) a intervenção de conservação e restauro.

A conservação deste documento exigiu bastante reflexão teórica a nível ético, uma vez que existiam diferentes opções técnicas, mais ou menos interventivas, com vista à resolução do problema estrutural da encadernação. Após consideração e avaliação das diferentes opções, optou-se por manter a encadernação original, realizando-se no entanto algumas alterações na estrutura da mesma, que consistiram essencialmente no aumento da espessura da lombada, de forma a se poder compensar a maior espessura do corpo de texto1. Esta opção teve em vista a melhor relação entre a manutenção da estrutura original e a futura preservação da peça.

Notas

1 Sequeira, S. O., & Augusto, C. (2009). Intervenção de conservação e restauro no livro “Correspondência Científica de Arruda Furtado” - Questões éticas e soluções aplicadas. Páginas A&b, 2(3).

PROJETO
Conservação e restauro