PROJETO

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O projeto ‘Ilhas Afortunadas’

Este projeto tem origem num conjunto de desenhos, esboços e manuscritos originais de Francisco de Arruda Furtado, que foram encontrados por catalogar na Biblioteca do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC).

Na altura, já era conhecida do público uma outra pasta de Francisco de Arruda Furtado – Correspondencia Scientifica – contendo 286 cartas que foi escrevendo ao longo da sua vida, incluindo as famosas cartas a Charles Darwin. A Correspondencia Scientifica, que também pertence aos acervos do MUHNAC, foi integralmente publicada no importante volume Correspondência Científica de Francisco de Arruda Furtado, organizado e acompanhado de estudo introdutório de Luís M. Arruda e publicado pelo Instituto Cultural de Ponta Delgada (2002). Para além disso, a Correspondencia Scientifica esteve exposta na exposição ‘A Evolução de Darwin’, quer na sua apresentação em Lisboa (Fundação Calouste Gulbenkian, 2009), quer no Porto (Casa Andresen, Museu de História Natural da Universidade do Porto, 2011). Esteve também em exposição em Ponta Delgada (Museu Carlos Machado, 2010). Desde fevereiro de 2012 que está em exposição permanente no MUHNAC. Encontrava-se muito degrada e foi restaurada em 2009, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Apesar disso, a Correspondencia Scientifica nunca tinha sido tratada do ponto de vista arquivístico e as cartas nunca foram digitalizadas individualmente. Por outro lado, à luz da ‘descoberta’ das pastas na gaveta, bem como de um outro conjunto menor de manuscritos de Francisco de Arruda Furtado resultante do seu trabalho como naturalista do Museu [Bocage], importava olhar para a totalidade do espólio existente no Museu, compreendê-lo de forma mais completa no contexto da vida e obra de Arruda Furtado e torná-lo integralmente acessível à comunidade científica e à generalidade do público.

Assim nasceu o projeto ‘Ilhas Afortunadas’, que foi submetido em 2013, pelo MUHNAC, ao programa de recuperação, tratamento e organização de acervos documentais da Fundação Calouste Gulbenkian. Reuniu-se uma equipa de quase 20 especialistas de Portugal continental e dos Açores, em diversas áreas, desde a história da ciência à conservação e restauro, da biologia à ilustração científica, entre outras.

O projeto teve como objetivos o tratamento arquivístico e de conservação, o estudo e a divulgação de todo o espólio de Francisco de Arruda Furtado existente no MUHNAC. Dele resultaram este portal, uma exposição no MUHNAC e um catálogo. Uma seleção de desenhos foi também apresentada na exposição temporária ‘Largo Tempo’, comissariada por João Miguel Fernandes Jorge, no Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, entre maio de setembro de 2014.

Apesar dos resultados, o projeto deixa muitas questões em aberto sobre o Portugal oitocentista, para investigação futura por parte de historiadores, biólogos, antropólogos, geógrafos e etnógrafos, entre outros. Também aponta pistas para uma compreensão mais aprofundada sobre o trabalho de Francisco de Arruda Furtado na vertente de naturalista do Museu, bem como dos exemplares que recolheu, reuniu em coleções e trocou com instituições portuguesas e estrangeiras. Merecerá a pena também aprofundar a história atribulada deste espólio complexo de manuscritos, cartas, livros, espécimes e desenhos no Museu, desde que a viúva do filho de Francisco de Arruda Furtado o doou, em 1953.

No entanto, estas e muitas outras questões serão certamente respondidas à medida que o espólio for sendo consultado e usado.

Ao MUHNAC, que preserva este magnífico espólio público, coube o dever e a responsabilidade de o tornar integralmente acessível e assim o devolver, em todo o seu esplendor, à comunidade científica e a todos os portugueses, para que conheçam melhor a vida e obra de Francisco de Arruda Furtado, que foi muito mais do que ‘o português famoso que se correspondeu com Darwin’. Isso fica feito, com o indispensável apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Marta C. Lourenço
MUHNAC, Coordenadora do projeto ‘Ilhas Afortunadas’