O Espólio Arruda Furtado
Qual a história deste espólio?
A história do espólio de Francisco de Arruda Furtado no Museu é complexa e a investigação ainda se encontra em curso.
O espólio terá permanecido na família até finais de 1953. Muito provavelmente na sequência da morte do filho de Francisco de Arruda Furtado, Carlos de Arruda Furtado (1886-1953), em janeiro de 1953, a sua viúva, Dulcemina de Arruda Furtado, doou manuscritos, cartas, desenhos e livros à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que na altura se encontrava nas atuais instalações do Museu. A doação foi acompanhada por uma lista sem data e sem assinatura (AHMUL-MUHNAC, Papéis de Arruda Furtado [s.d.], AF41).
O Conselho da Faculdade reconhece a doação em 18 de novembro de 1953 (AHMUL-MUHNAC, Ata da sessão do Conselho Escolar da Faculdade de Ciências, Lv.1443), e agradece a Dulcemina de Arruda Furtado logo a seguir, em 7 de dezembro, “pela valiosa oferta de livros e manuscritos científicos, pertencentes ao antigo naturalista do Museu Bocage Dr. Arruda Furtado” (AHMUL-MUHNAC, Cópia do ofício do Diretor da FCUL dirigido a Dulcemina Arruda Furtado, Lv.772).
Depois da doação, os manuscritos e desenhos terão ficado na Biblioteca Central da Faculdade e os livros foram incorporados na Biblioteca do Museu Nacional de História Natural, Secção de Zoologia e Antropologia (Museu Bocage), possivelmente em 31 de dezembro de 1953 (os livros possuem essa data, escrita a lápis). Estes últimos foram catalogados e encontravam-se acessíveis.
Em 1985, é criado o Museu de Ciência da Universidade de Lisboa (Decreto-Lei 146, de 8 de maio). É com este Museu, dirigido por Fernando Bragança Gil, que se inicia a valorização dos acervos bibliográficos e documentais históricos da Faculdade, quer através da criação de um Serviço de Biblioteca e Documentação (Estatutos de 1990), quer através da incorporação destes espólios no Museu, através de depósito, em 1997 ( Acordo de Depósito MCUL-FCUL , 12 dezembro).
Em 2002, parte dos manuscritos de Francisco de Arruda Furtado – a Correspondência Scientifica – é publicada na íntegra pelo Instituto de Apoio à Cultura de Ponta Delgada, num volume coordenado por Luís M. Arruda, que se encontra igualmente em linha .
No entanto, é apenas em 2009 que se inicia o tratamento sistemático do arquivo, com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). O arquivo histórico ganha então autonomia (anteriormente fazia parte da Biblioteca do Museu, estando apenas escassos manuscritos catalogados na base de dados bibliográfica), são criadas normas de catalogação de acordo com o standard ISAD(G), é instalada uma base de dados dedicada, é elaborado um plano de conservação e é contratado um bolseiro com formação especializada.
É nesse ano que o álbum da Correspondência Scientifica é restaurado com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo sido apresentado na exposição ‘A evolução de Darwin’ em Lisboa (FCG, 2009) e no Porto (Casa Andresen, Museu de História Natural da Universidade do Porto, 2011). Figurou igualmente na exposição ‘Ilhas e História Natural’, organizada pelo Museu Carlos Machado, juntamente com livros, dois desenhos, algumas notas e dois álbuns (Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, 2010).
Em 2010, o arquivo histórico passa a estar aberto à comunidade científica e é publicado o primeiro Guia de Fundos (coord. Vítor Gens). Neste, do espólio de Francisco Arruda Furtado constam os documentos que eram conhecidos à data: a Correspondência Scientifica e alguns desenhos soltos (ainda sem descrição ao nível do documento).
No outono de 2011, foi encontrado um conjunto de pastas originais com centenas de desenhos, esboços, manuscritos e publicações de Francisco de Arruda Furtado. Este lote foi reunido com a Correspondência Scientifica e os desenhos soltos já conhecidos, repondo os contextos e a organização (presumivelmente original) de ambos os conjuntos de unidades de instalação.
Entretanto, o Museu de Ciência da Universidade de Lisboa e o Museu Nacional de História Natural são extintos, resultando a sua fusão na unidade Museus da Universidade de Lisboa/Museu Nacional de História Natural e da Ciência, MUHNAC (despachos nº. 15410/2011 e nº. 10151/2012 do Reitor da UL). O MUHNAC integrou os acervos museológico, bibliográfico e arquivístico de ambos os museus. Na sequência desta fusão foi possível reunir igualmente os documentos gerados no decurso da vida profissional de Arruda Furtado como naturalista do Museu Bocage, conhecidos mas igualmente não catalogados de acordo com as normas internacionais de arquivo.
Em suma, finalmente foi possível ter uma visão de conjunto do magnífico espólio de Francisco de Arruda Furtado que, por múltiplas razões históricas e institucionais, foi sendo fragmentado ao longo do tempo:
- o álbum da Correspondência Scientifica;
- as pastas de desenhos, esboços e manuscritos;
- a documentação produzida no Museu Bocage;
- os seus livros.
Em 2013, o MUHNAC teve o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian para catalogar e digitalizar na íntegra este espólio, disponibilizando-o à comunidade científica e a todos os interessados para que possa ser amplamente conhecido, estudado e referenciado.
Infelizmente, os espécimes recolhidos por Francisco de Arruda Furtado terão ardido no incêndio da Faculdade de Ciências de 1978, sobrevivendo apenas uma pequena caixa de charutos com conchas. Existem, porém, coleções de Francisco de Arruda Furtado no Museu Carlos Machado de Ponta Delgada.